Confinados
Os gatos foram uma companhia fiel na quarentena.
Não, eles não tinham gatos. Nem entendiam nada de gatos.
Eles se divertiam observando os gatos nas janelas dos vizinhos, mas é interessante que antes da quarentena nunca haviam prestado atenção. Quando todos tiveram que ficar em casa confinados, ir para a janela ver o movimento nas outras janelas passou a ser um hábito.
E os gatos começaram a ganhar números.
O primeiro, obviamente, foi chamado de Gato 1. Gato 1, caramelo com a barriga branca, era também um fã da janela e da atividade de cuidar os vizinhos.
Os outros gatos foram aparecendo aos poucos, cada um com a sua janela própria e seus hábitos. As cores eram variadas. Às vezes eles apareciam em outras janelas, mas costumavam ter uma preferida. De vez em quando apareciam interagindo com os donos, mas era raro.
Até o final de 2020, eles já eram 15 gatos.
Houve algumas baixas. Gato 3 se mudou. Gatos 2 e 4, que eram companheiros de janela, sumiram por um tempo e eles acharam que também haviam se mudado, mas em 2021 Gato 2 reapareceu. Eles se perguntavam se ele havia viajado para sumir por tanto tempo. Mistério.
Eles estavam longe de casa, em um país diferente. Na verdade, melhor dizer que estavam longe da família e do que estavam acostumados, porque o novo país foi escolhido como nova casa.
Eram só os dois. Sem filhos. Não tinham amigos na nova cidade. Isso fez alguma diferença? Não muita. Antes já não tinham tantos amigos, mas mesmo com estes poucos o contato era mais on-line, o que não mudou em nada com a troca de país e com a pandemia.
Mesmo entre eles, cada um em uma peça da casa (ou até na mesma peça), cada um com seu próprio fone de ouvido, a comunicação por mensagens era frequente. E há anos tem sido assim e tem funcionado muito bem. Agora, porém, eles gritavam um para o outro para avisar quando aparecia algum dos gatos e se divertiam com isso.
Tinham que sair para ir ao supermercado. Fora isso, às vezes iam passear em algum parque nos finais de semana. Quando chegou o inverno e os passeios ficaram mais difíceis, se contentavam em andar um pouco pelas redondezas procurando esquilos para observar.
Sim, esquilos! Além dos gatos, os esquilos eram fonte certa de diversão. No país deles não havia esquilos. Aliás, no país deles não era nem mesmo possível passear tranquilamente como faziam agora. Lá eles tinham medo da violência.
Eles gostavam também de olhar a neve. Será que se acostumariam um dia? Chegaram a fazer uma miniatura de boneco de neve com a neve da sacada, mas pensam em praticar em escala maior em algum momento caso se animem a sair de casa. É tão confortável ficar em casa procurando os gatos. E com sorte, bem de longe, ainda ver algum esquilo.
Comments
Post a Comment