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Mudanças

 O texto sobre os gatos e o confinamento foi escrito no inverno. Desde lá, muita coisa mudou. Veio a primavera e agora estamos no verão, estação da qual não sou nem um pouco fã, apesar de ter aprendido a dar mais valor ao sol. No Brasil, só fugia do sol. E o engraçado é que nas viagens à Europa sempre ficava me perguntando por que aquela gente toda ficava estirada no sol quando tudo o que eu queria era achar uma sombra. Agora entendo um pouco melhor. O confinamento também está bem mais relaxado agora, aos poucos as coisas estão retornando (mais ou menos) ao normal, mas provavelmente teremos um passaporte sanitário por aqui. Tempos estranhos... Gato 1 (lembram dele?) se mudou. Foi meio chocante no dia em que olhei pela janela e vi que a cortina da janela dele havia sumido, o que significava que as pessoas estavam se mudando. Curiosidade sobre os apartamentos daqui (e talvez de outros lugares também, em Berlim era a mesma coisa): eles não têm persianas! Sem pendurar cortinas a pessoa...

Compromissos

 Vocês têm problemas para cumprir compromissos? Não falo de compromissos com outras pessoas, tampouco de compromissos na agenda. Falo do comprometimento conosco, de coisas que nos propomos a fazer, sem cobrança alheia. Eu tenho sérios problemas. Já larguei muita coisa pela metade. São muitas ideias, muita empolgação, muitos inícios. Depois, nada.  Falta de disciplina? Com certeza. Falta de motivação? Não acho que seja o caso. Tem coisas que eu realmente quero fazer, sei exatamente porque quero fazer e mesmo assim não levo adiante, como este blog. No final do ano passado me propus a escrever no blog com regularidade, mas a constância tem sido ridícula. Eu chego a escrever, tenho alguns textos semiprontos, ideias anotadas e vários textos prontos na minha cabeça que nunca viram o papel e provavelmente não vão ver, porque assim como eles vêm, vão. Além da falta de disciplina, um dos motivos para isso (e esta tem sido a razão da minha relutância para escrever desde sempre, não só n...

Confinados

Os gatos foram uma companhia fiel na quarentena. Não, eles não tinham gatos. Nem entendiam nada de gatos. Eles se divertiam observando os gatos nas janelas dos vizinhos, mas é interessante que antes da quarentena nunca haviam prestado atenção. Quando todos tiveram que ficar em casa confinados, ir para a janela ver o movimento nas outras janelas passou a ser um hábito. E os gatos começaram a ganhar números. O primeiro, obviamente, foi chamado de Gato 1. Gato 1, caramelo com a barriga branca, era também um fã da janela e da atividade de cuidar os vizinhos.  Os outros gatos foram aparecendo aos poucos, cada um com a sua janela própria e seus hábitos. As cores eram variadas. Às vezes eles apareciam em outras janelas, mas costumavam ter uma preferida. De vez em quando apareciam interagindo com os donos, mas era raro.  Até o final de 2020, eles já eram 15 gatos.  Houve algumas baixas. Gato 3 se mudou. Gatos 2 e 4, que eram companheiros de janela, sumiram por um tempo e eles ach...

Medalhões

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Vocês já leram o conto A Teoria do Medalhão de Machado de Assis? De forma resumida, é um diálogo no qual um pai dá conselhos ao filho para que este possa se tornar o que chama de medalhão. Para atingir esse objetivo, ele deve se abster de refletir e ter ideias próprias. Deve também apenas repetir fórmulas prontas e discorrer sobre teses metafísicas que não ultrapassem os limites da vulgaridade. A ironia de Machado é tanta que o pai recomenda ao filho que vá a livrarias somente para socializar e que não faça caminhadas sozinho porque isso poderia levá-lo a ter ideias. A primeira vez em que o li, na época da Faculdade de Letras, fiquei chocada com a semelhança entre os conselhos dados pelo pai para o filho obter o respeito da sociedade e o que observava na rotina do Tribunal – e isso tem tudo a ver com o asco que desenvolvi pelo Direito. Não cheguei a contar nos textos anteriores, mas trabalhei no Tribunal de Justiça do meu estado como assessora de desembargador por mais de quinze anos....

Por que saímos do Brasil?

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Não sei em que momento exatamente surgiu a ideia de sair do Brasil, mas eu sempre tive esse sonho, desde os tempos do colégio. Em 2006 o sonho começou a se tornar um objetivo mais concreto: destruíram a porta do meu apartamento no meio da tarde e levaram um monte de coisas. Não sei quantos de vocês já passaram por isso, mas a sensação de violação é difícil de superar. A vontade de fugir do país imediatamente foi bem forte. Já nessa época estudamos a possibilidade de vir para o Canadá por causa dos vários programas de imigração do país, mas tudo parecia muito complicado e não fomos adiante nos planos. Alguns anos depois entraram novamente no apartamento, dessa vez de madrugada, enquanto eu dormia (morava sozinha ainda). Não vi nada e descobri quando acordei e me deparei com uma escada ao lado da janela da área de serviço (3º andar). Nesse caso, o sentimento foi de completo pavor, pensando em tudo que poderia ter acontecido. Até hoje isso me assombra. Depois disso, mudei de apartam...

Início

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Eu sempre quis escrever. Já com 7 ou 8 anos de idade dizia que iria ser escritora. A parte de escrever realmente aconteceu, mas não exatamente como eu gostaria. Segui aquele argumento clássico de que quem gosta de ler e escrever deve estudar Direito – ninguém nunca apoiou a vontade que eu tinha de cursar Jornalismo. Depois de  me formar, passei mais de 16 anos escrevendo, escrevendo muito, escrevendo tanto para o trabalho que a minha vontade de escrever sobre qualquer outra coisa morreu por completo (sim, minha relação com o Direito será tema para alguns textos). Nesse meio tempo, voltei para a universidade para cursar Letras, mas não consegui concluir o curso por ser incompatível com a minha rotina de trabalho. Até hoje me arrependo de não ter insistido mais antes de desistir – adorava o curso! –, mas não era possível aproveitá-lo como deveria enquanto estava soterrada no meio dos processos. Quando resolvemos mudar para o Canadá, num primeiro momento achei que todas as possib...